sábado, 4 de dezembro de 2010

Sinto que esse é o momento exato para se voltar a falar. É preciso que se fale para que não se enlouqueça. É preciso registrar todas essas histórias, com h ou com e ou com i - se eu assim quiser - que passam pela minha cabeça. É preciso que os dedos voltem a ser inquietos, como o coração é. É preciso que não se preocupe com a métrica, com acentuação ou com as boas palavras, pois boas palavras são para boas meninas. Bons comportamentos, também. Por isso, é preciso não se importar se, agora, a escrita é no colo, se na boca há um cigarro, se na sala há pessoas, se na rua há barulho, se na rua... há a rua. Ah, a rua! Em todos os sentidos consonantes, em todos os sentidos destoantes, em todos os sentidos que podem ser sentidos. Há a rua, há um coração inquieto e há um dedo, ou dois, que se confronta com um cérebro que insiste em achar explicações, como aquelas que muitas vezes – muitos anos – me foram impostos. Não posso esperar mais, não, nem mais um minuto para dizer, para colocar para fora, não por achar bonito ou poético, não por ser excêntrico ou egocêntrico, mas por ser necessário, por se fazer necessário. É necessário que se fale, que se grite, que se inspire, que se aspire, aspire tudo o que o ar possa nos trazer, que seja pólen de flor ou monóxido de carbono, por que é assim que vivemos, entre “a flor e náusea” de Drummond, entre o real e o abstrato, entre o geral e o concreto, entre o limite da loucura e da razão, ou numa mescla divina dos dois. Divina, pois se há divindade é nesse nosso excesso de humanidade. Se (e só) nos descobrimos deus(es) ou diabos é nesse nosso excesso de dia-a-dia, nesse excesso e no acumulo que nos traz toda rotina. É no excesso de nós mesmos que sabemos ser humanos. Pois não é pelo polegar opositor, pela racionalidade, materialidade e todas as ades, ismos e idos (e vindas) que sabemos o que somos. Somos porque nascemos, e essa condição nos coloca a frente possibilidade de ser humanos ou existirmos. Coloca-nos a frente a necessidade de sobrevivência, como um bicho, mas coloca também à nossa frente a nossas vontades e latências, como bichos. E bichos que somos, somos inquietos, somos a flor, mas também somos a náusea. Somos asfalto e concreto e somos instinto e vaidade. Somos racionalidade e sobrevivência. A flor que ama e a náusea do vômito. Por que já passou do tempo de se dizer da essência e da aparência, portanto, somos, então, só essência.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eu queria uma frase de efeito que fosse capaz de explicitar tudo o que estou sentindo, assim como muitos, que não lêem a obra inteira, mas se contentam com uma frase, que explica tudo. Grandes autores, são, sim, capazes de criar frases de efeito, assim como são, mais ainda, capazes de criar grandes obras. As frases são partículas, pedaços mal interpretados de um todo. Bom, mas o mundo hoje se contenta com as frases de efeito, as frases bonitas encontradas na internet. O mundo, sequer lê mais e-books, que dirá, os antiquados livros. Ah, e que belos livros, os mais belos, para mim, são os mais antiquados: os de poesia. O mais belo para mim, continua sendo mais antiquado aos olhos de muitos. Interessa-me o todo, o inteiro, que é chato, que demora, que às vezes emociona ou é truncado, mas se o é, é por inteiro, não uma parte resumida de um trecho bem elaborado. Mas, é que no fundo, eu começo dizendo que quero o depois, acabo criticando. É que, afinal, assim como as obras que me refiro, um escrito, um texto, uma poesia ou um desabafo, nunca têm finais pré-concebidos ou pré-escritos e muitas vezes nem são mesmo entendidos, como são, facilmente, as frases de efeito. Mas eu queria mesmo uma frase de efeito, queria saber resumir meus sentimentos em uma linha, meu ser inteiro em uma descrição on line, queria, na verdade, sentimentos mais comuns, mais fáceis de serem sentidos, queria um sofrimento mal elaborado, que sara com uma mesa de bar ou uma compra no shopping, por mais que eu seja, racionalmente contra, chega uma hora em que cansa a ra-ci-o-na-li-da-de de se escrever tudo certinho, de se escrever em linhas retas. Tem horas que minha vontade mesmo, era ser poesia concreta. Mas o melhor mesmo, seria ser uma frase de efeito, resumida, impactante, sem profundidade, sem o tudo ou o todo e que fosse, sobretudo, efêmera; trocada, de forma displicente, um dia após o outro. Eu queria, só por um dia, ser uma frase de efeito, e não uma obra inteira.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Todo mundo tem (ou já teve) seu erro de concordância

Todos, um dia - ou alguns anos - da vida, já tiveram seus erros de concordância. Afinal, você que sempre foi em todos os shows de rock da cidade, não se viu passando quase dois anos freqüentando bares em que toca sertanejo? Você, que a vida inteira teve boa educação e gostou de estudar, não acabou namorando e até sustentando alguém que era capaz de escrever “espírito” com x e comete erros de concordância de arder o estômago? Você, que sempre foi uma sedentária convicta, não acabou se apaixonando justo por um aficionado por bicicleta, que não sabe falar de outro assunto que não seja esse? Você que sempre chamou tanta atenção, conversa bem, é inteligente, não acabou ficando anos aprisionado a uma pessoa “sem sal”? O que explica isso? Amor? Pena? Comodidade? Talvez um pouco de cada coisa para alguns, mas eu prefiro explicar os erros de concordância pelo que eles são: erros semânticos ou, se preferem, erros de percurso que ocorrem na vida quando estamos distraídos. Não podemos bobear que, assim como na escrita, em algum momento na vida, por pura distração ou falta de interesse ou possibilidades, acabamos cometendo esse tipo de erro que as vezes pode durar alguns meses de um affair rápido e você já volta ao “normal”, alguns anos em que você pode até perder os “anos dourados” de sua vida por conta disso ou, quando o erro é um pouco mais grave, pode demorar uma vida inteira e nunca percebermos ou nunca termos coragem de pegar uma borracha, apagar o erro, encontrar a concordância correta e escrever de novo. Alguns erros são escritos de caneta, mas, para isso, sempre existiram os corretivos, demoram mais a secar, mas ainda assim, apagam. E, de toda forma, há sempre a possibilidade de uma nova folha. O que não dá é para escrever na vida um texto cheio de erros sem nunca reler essa história. É preciso encontrar a concordância, que não quer dizer que seja simploriamente apenas concordar, mas que tenha nexo, que se encaixe em sua vida, que tenha, muito mais que concordância, consonância. E que entenda o que é isso.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não. Eu não preciso de terapia.
Na verdade, não preciso mesmo é de toda essa melancolia. Isso não me faz bem. E isso eu já sei.
Não. Eu não preciso mais de seu carinho fraterno, paterno ou eterno.
Não. Eu não sou sua esposa.
E você, não queiras ver em mim o que você não foi.
Não,
Eu não preciso dos seus conselhos, de suas vivências e complacências.
Eu não sei,
Eu não sou.
Duvido se um dia serei.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"É preciso queimar todo o passado e reconstruir uma nova vida. Ninguém deve se deixar dominar pela vida vivida até agora, ou, pelo menos, só conservar o que foi construtivo e belo. É preciso sair do fosso e lançar o sapo longe do coração."
(Gramsci, em carta à esposa, de 27 de junho de 1932)
Acho que o meu pior defeito sempre foi querer buscar um reconhecimento maior do que aquele que o senso comum é capaz de dar. O senso comum gosta da dor. Ou melhor, já se acostumou com ela, porque, na verdade, o senso comum se acostuma com tudo! Acostuma-se com uma vida mais ou menos, um trabalho ou um horário mais ou menos, com uma porra rala no final de um papai-mamãe mal feito, com a recusa de seus desejos mais sórdido (e os menos sórdidos também), com uma relação que prende, maltrata e desumaniza, mas que é estável, por que, no fundo, o senso comum gosta mesmo é de estabilidade. Tem medo de arriscar, tem medo do novo, não pula com medo de se machucar ao chegar no chão e, por isso, perde a adrenalina da queda. Não tenta, achando que já vai perder, sem perceber que tem a mesma proporcionalidade de ganhar. O senso comum gosta mesmo é da cara de coitadinha, para que possa vir com a hipócrita solidariedade cristã e cuidar, sem perceber que esse cuidar significa também cruelmente dominar. Mas o senso comum não se admite enquanto cruel, pois ele não admite sentimentos, a não ser que eles sejam mornos. Ele jamais admitiria que atrás de sua aparente bondade e racionalidade, há sentimentos de fera, que devora, que não pensa, que tem fome, e que quando tem fome, sacia. Que quando tem sede, bebe. Que quando tem raiva, enlouquece. E que quando tem desejo, também sacia.
Mas o senso comum, não! O senso comum aprendeu muito cedo na escola a sentar-se em fila, amar a deus, cumprir ordens, ser racional. O senso comum é o animal domesticado que, todos os dias antes de dormir, sente saudade de correr livremente pela selva.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Se fosse só o tédio... mas o pior é a sensação de inutilidade. Sensação semelhante à que já senti, mas em outra situação.
Sinto que estou perdendo o mundo. Ele continua rodando, e eu continuo aqui, perdendo seu giro, suas cores, perdendo amores.
Sinto que estou atrofiando, em sentido visceral. Minhas costas doem e me dizem o tempo todo o quanto é preciso me levantar. O quanto é preciso levantar, mudar (?) ... mas eu não me canso de mudanças? A mudança, sempre presente em minha vida, me é combustível ou disfarce? Disfarça o tempo sem perceber as verdadeiras mudanças, que ocorrem enquanto eu busco as outras.
A minha sede pela vida continua viva, mas a vida se encontra com a realidade. Uma hora elas teriam que se encontrar, já que uma destrói, mas, ao mesmo tempo, dá sentido à outra.
A realidade destrói a vida e seu sentido?
Que sentido há nisso que eu falo?
Há, sim, a perda dos sentidos, de sentimentos, de vida. O tempo está passando muito lento, mas quando olho para trás, ele passou tão rápido!
O tempo só passa rápido para quem ama...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um filme de Almodóvar: cores fortes e emoções exageradas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Poema trôpego

... e tenho sede.
Em tempos em que é proibido sentir,
eu tenho sede.
Em tempos em que é profundo saber
Que na verdade,
o simples
é sempre o melhor de se sentir.
Em que o amor
se tornou um meio - e não um fim - de se viver.

O tempo é bom
quando a gente já não sabe sofrer
Quando a gente sofre,
mas não porque já se cansou de viver.

E o tempo é curto
E o tempo já se cansou
E todos nós já nos cansamos de lhe alertar
Que o tempo é curto...
E nos nem conseguimos sonhar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Texto escrito em 2005. Engraçado como mudam os personagens e os planos de fundo, mas a história parece sempre a mesma.

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Sobre a inutilidade dos sonhos

No auge de suas idades mais floridas, ela sonhara com tanta coisa... seus devaneios lhe pareciam sólidos, ela já se via realizando tudo aquilo que havia mentalizado. Aos poucos, foi vendo o mundo mostrar sua face mais escura, começou a perceber que seus braços eram pequenos demais para alcançar tudo aquilo que queria.
Seus sonhos foram sendo sufocados por aquela cadeira dura em que repousava sua bunda o dia inteiro.
- Repousar? Quem disse que ela estava cansada?
Com o tempo foi ficando... Cansa! Cansa querer continuar falando de poesia e descobrir que o tempo para a poesia já acabou; agora é hora de falar de gastrina, enterogastrina, coleicistonina... que raios de nomes complicados são esses para poder se fabricar MERDA! Merda, merda, merda! Para que saber desses hormônios de merda, se dentro dela outros hormônios afloram e a inebriam? E agora ela está preocupada por ter falado tanta merda. Repetição de palavras não é bom para a estética e também não é de bom tom falar merda. Deveria ter colocado entre aspas. Aspas dão licença poética, licença formal e quadriculada... "a libertação comprimida das aspas"... ainda escrevo sobre isso.
E agora percebo que já mudei o foco narrativo, mudei de assunto... e já que mudei mesmo, quero agora falar sobre flores e jardins, dias de sol e passarinhos cantando. É melhor falar de coisas bonitas...
...
... mas o problema é que já me enfiaram cabeça a dentro que coisas bonitas não dão 'ibope'. Já não sei mais falar dessas coisinhas (que sequer vivo). Só sei falar daquilo que sinto. Só sei escrever sobre angústia, porque a alegria não precisa ser escrita, ela fala por si, foi feita para ser vivida, e não comentada, escrita e milimetrada. E talvez essa idéia de felicidade, alegria, angústia sejam todos conceitos impostos por essa sociedade capitalista, hipócrita, cruel e blá, blá, blá ... lá vêm esses discursos pseudo-engajados, pseudo-acreditados, pseudo-vivenciados... que porre! Quem vai querer saber dessas ideologias, sobre a dialética da ideologia, sobre saber se me engano ou se sou enganada... qual é a diferença? Este é apenas mais um mero detalhe da alienação, da não-alienação ou do pagamento do analista.

segunda-feira, 29 de março de 2010

De toda a angústia que se faz presente hoje (e há vários dias) em meu ser, lhe devo, obviamente, muito mais que explicações. Mas, explicar o quê? Explicar uma sensação de que 'não há um amanhã', de uma saudade do que passou há tão pouco tempo, de uma felicidade em que viviamos de forma quase ingênua, sem se preocupar com o mundo e sem dar satisfações a ele. Mas o mundo cobra. Nos cobra a cada dia que devemos, sim, dar uma satisfação a ele e, sobretudo, dar respostas. E justo nós, que até então nem fazíamos perguntas.
O passado que volta a tona para nos atrapalhar é só uma máscara para minhas fraquezas, minhas debilidades e inseguranças que antes pareciam tanto lhe agradar, mas que, chega uma hora, em que enche o saco! Sim, de forma chula assim mesmo, de forma a querer fugir, querer sumir do mundo... aquele mesmo mundo que queríamos negar.
Ao contrário do que a maioria diz, de que não há como expressar em palavras o sentimento, para mim é o contrário: me angustia não conseguir fazer das palavras o meu próprio sentimento - como bem sabes. Porém, meu corpo não quer saber de palavras, ele regurgita tudo aquilo que não me faz bem e, por vezes, pode ser que isso saia das formas mais horrendas que se pode imaginar, afinal, sou humana, e nada é mais feio do que conhecer de perto um ser humano.
Nada também é tão bonito quanto conhecer este mesmo ser humano. E as contradições de um ser contraditório - que somos - se fazem presentes, para que possamos continuar vivendo e amando 'como se não houvesse amanhã'. Talvez, da mesma forma com que não tenho esperanças em um amanhã, te amo também com a mesma intensidade de quem pode se despedir amanhã.
Não espero fugir dos clichês, quero-os, quero cada vez mais elementos para me expressar, para te conhecer, para me conhecer, para te deixar me conhecer, como nunca ninguém o fez. Quero-te cada vez mais, como nunca a ninguém tanto quis.
De um amor louco, meio turbulento, meio sem razão, obedecendo sempre às 'sem razões do amor'!

sexta-feira, 12 de março de 2010

O meu corpo responde com choro
O que outros responderiam com reza
Por conta da metáfora ou da retórica
ficam sempre engasgadas
as verdeiras perguntas que deveriam ser feitas,
as puras verdades que deveriam ser ditas.
Assim como fica preso também este silêncio irrequieto,
esse erro envergonhado,
este ciúme orgulhoso.
Pois esse ciúme que sinto não é de outros,
é ciúme pelo que não sou.

Por conta do excesso ou falta de palavras,
nunca há a expressão exata
- pro que não tem mesmo exatidão -
para as nuvens de poeira que transfiguram o meu olhar sob o mundo.
Falo desta poeira chata que incomoda os olhos,
mas não os fazem chorar.
Apenas incomoda sem doer tanto que te faça tirá-la,
e sem sair para fora em um grito de alívio.
O alívio nunca vem.
O peito já não dói
- se parece mais com um ardor
que vem sem saber de onde
e arde sem dizer o porquê.

terça-feira, 9 de março de 2010

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."
(Caio Fernando Abreu)

sábado, 6 de março de 2010

Enquanto você dorme eu faço disto, como sempre, o meu refúgio, não que seja necessário - mas é bem verdade que tem horas que é - mas para mais obedecer a um protocolo que eu mesma criei. É que ando - ou sempre andei - criando protocolos, para, logo depois, ter o prazer de quebrá-los. Ou talvez não seja mesmo um protocolo, ou talvez não seja mesmo um prazer, ou, mais uma vez, talvez, seja mesmo uma dor. Que há sempre um leve prazer na dor.
Sempre me encanta a sensação de não dormir enquanto o mundo dorme, sonha, e eu... sempre na vida muito real. Mas, as vezes, realidade demais cansa. Queria poder saber sonhar novamente, sonhar sem dor. Mas, espera, não há sempre um leve prazer na dor?
As contradições em minha cabeça são muitas, nem deveriam ser publicadas, mas há que se falar. Há sempre uma vontade louca de dizer, não em palavras ditas, mas em escritas. A escrita me acompanha faz tempo... me faz bem ou mal? Sei que Drummond tinha razão ao dizer "na solidão de indivíduo, desaprendi a linguagem com que os homens se comunicam".
Mas, porém, todavia, entretanto... todas estas palavrinhas que nossa língua nos dá para expressar o quanto, na verdade, nunca sabemos ou temos certeza de nada. E nunca teremos! E ainda bem que é assim! Deve ser muito chato ter certeza das coisas. Ou talvez seja acalentador descobrir-se certo. Descobrir-se, porque há sempre uma nova descoberta. Não. Para quem tem certezas não há novas descobertas. Tudo se torna fato, escrito, datado, concretizado e não passível de mudança. Alguém diria: "nada é impossível de mudar", mas, será que, assim como inventamos um deus para ser redentor, não inventamos as mudanças para termos sempre uma esperança? Esperança de que tudo pode melhorar, de que é possível revolucionar para, depois, sentirmos uma ponta de orgulho nas pequenas mudanças? Ou para nos sentirmos angustiados quando elas simplesmente não existem? Para querermos sempre 'quebrar a rotina', 'subverter a semana' e achar que, com isso, com apenas isso, seremos melhores ou menos frustados?
E esta frustação vem de onde? Da consciência, ciência e, sobretudo, impaciência. Da virtude pueril que nunca existiu? Das rimas bem elaboradas que nunca me serviram de nada? Da tentativa de rimas mais fáceis, de uma leveza forçada que, se é forçada, também não serve pra nada, a não ser por trazer mais angústia pela seriedade abortada, pela intensidade recalcada, da vida que poderia ser mais fácil, leve e, conseqüentemente, mais sem graça. Sem graça, pois o ser humano não nasceu para este equilíbrio inalcançável! E nem para esta seriedade inalcançável - então por que eu a busco?
Na ausência de parênteses, uso sempre pontos finais ou, freqüentemente, travessões, que podem indicar uma conversa invisível, por que nunca acontece! - E há um sentido que vai muito além da gramática nisto que digo, mas que poucos entendem por eu ser tão implicíta e, por isso, nunca conseguir aquelas demonstrações que queria explícitas.
A cebeça a mil e a vontade de falar, gritar, mas eu opto sempre por escrever... e esperar.
Esperar que aquele pensamento, que era muito bom, volte. Esperar que aquela idéia, que era muito boa, volte. Esperar que aquela sensação que era, no começo, muito boa, volte. Esperar que tudo volte, mas, não sem antes, sentir sempre o medo de voltar. E este medo, existe, afinal, por que, por mais que tente me convencer do contrário por uma mera situação filosofica, - ou nem isso - eu, como todo ser humano, me alimento de esperanças e, vejam só, não uso tanto pontos finais. Às vezes, eu prefiro usar as vírgulas ou deixar que tudo seja menos regrado, menos cheio de normas que eu mesma crio... para nunca conseguir cumprir. Cheio de reticências que, por mais que venham sempre seguidas de outras palavras, nunca serão fechadas enquanto eu não conseguir. E conseguir o quê? Acabar com as reticências que me impulsionam a escrever? Acabar com a escrita, que ainda me dá sonhos no triste viver. Acabar com toda esta dramaticidade de alguém só não consegue adormecer...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Há sempre em mim uma tentativa de me fazer triste. Mesmo que essa tristeza talvez nem exista de fato, mas, é bem verdade, que me sinto sempre muito mais humana quando me sinto triste. Quando há em mim um aperto no peito que me faz senti-lo vivo. A alegria pode trazê-lo à tona também, mas, confesso, é na tristeza, ou, diria melancolia, saudosismo, etc, que me encontro de fato. É que ela é minha, entende? É, de certa forma, encantador ficar sozinha e saber que sinto tudo isto sozinha, é algo só meu, que só existe dentro de mim. E compartilhar pode até ser bom para a Psicologia, a Bioenergética, a convivência social, mas a real, é que todos precisamos de sentir essa dor saudável. Precisamos nos encontrar. Precisamos de um tempo sozinhos, um cigarro sozinhos, um canto só seu, uma dor que é só sua, um segredo, um qualquer coisa que te faça sentir-se única, sentir-se humano, capaz de sentir, refletir, e não ser (ainda) robotizado pelo mundo.

E é sempre preciso lembrar-se de Vinicius:
"Que todo grande amor só é bem grande se for triste".
"Uma mulher tem que ter alguma coisa além da beleza, Qualquer coisa feliz, Qualquer coisa que ri, Qualquer coisa que sente saudade".

É que, tem horas, em que as rochas querem sentir-se conchas.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

De repente, sinto-me na obrigação de lhe agradecer.
Agradecer por tudo aquilo que já te falo e muito mais.
Por me fazer sentir de volta o frio na barriga daqueles que sentem paixão.
Pois é dela que me alimento.
Da paixão por estar viva,
paixão pelo que quero e por lutar pelo que acredito.
Paixão. Por você.
Neste momento, somente por você.
Por que me fizeste esquecer o mundo.
E se há algo de errado nisso,
eu não quero saber.
Não quero ligar para o que chamam de certo ou errado
Quero me ligar no que nós achamos certo,
no que nós...
e nós, que nem sabemos o que é errado...

Agradeço pelos sonhos de volta, pela esperança de volta e por todas essas reviravoltas.