terça-feira, 3 de maio de 2011

Nada

Porque comigo,
a vida é do deslumbre,
Do desbunde,
Do desmando.

Nada do que é fraterno,
Eterno,
ou paterno,
mas, caso queiras,
pode ser materno.

Nada de sagrado,
nada de jurado,
nada de sacramentado...

Nada censurado.

Nada do que pensas,
Nada do que sonhas,

Tudo que ordenas.

Nada do que queres,
Com todas as intempéries,
Sob as nossas peles.

Nada programado,
Nada consagrado,
Nada ao seu lado,

Tudo, ao seu grado.

quinta-feira, 3 de março de 2011

De tudo o que já aprendi em minha vida,
de Espiritismo, Paganismo,
passando por Reich a comunismo,
o que me pergunto,
na verdade,
é o que, de fato,
ficou em mim?
O que ficou de toda a boa escrita acadêmica,
de todas as filosofias ecumênicas,
O que fica, de verdade e, arrisco dizer,
para sempre,
no coração?
O que fica depois de tudo isso,
de todos os ensinamentos da infância,
das poesias não gravadas na madrugada,
dos beijos, doces ou fortes,
das amizades, boas ou tórridas.
O que fica, de verdade, no coração?
O que fica depois daquele não,
o que fica dos que eram unidos por aquela única pulsação.
O que fica de todos os que se foram para aqueles que virão?
O que fica, na verdade, no coração?
O que fica no traçado das linhas?
O que fica,
na verdade,
fica nas entrelinhas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Comecei este texto, meio trôpego, querendo dizer sobre quando se sabe o fim de um amor... sabe-se o fim pelo fim do brilho nos olhos, pelo fim do tesão, mas, quero falar, na verdade, e sobretudo, sobre como se sabe o fim de um sonho. Como saber reconhecer a tão famigerada frase de que “o sonho acabou”. E quando digo sonho, não me refiro apenas ao sonho fabuloso do amor, refiro-me a sonhos de vida. Como reconhecer e, acima de tudo, como seguir adiante, quando o sonho acabou? Quando se sabe que para si só resta mesmo esta cara amarrada no fundo de um copo. Quando, para todos, só restam os sonhos de outrem, os sonhos, que não foi você quem sonhou. Quando, na porta ao lado, esta porta está fechada. Quando, não se sabe sonhar e, por isso, não compensa nem dormir. Como sobreviver a um sonho abortado, ainda juvenil, e seguir adiante, fingindo ser adulta. Como ser adulta, se não fui, por um segundo, tão juvenil? Como explicar para outros o que sinto, se para eles, simplesmente, não interessa. Como, me diga como, depois de ter visto e vivido tudo (que não é nada) continuar em uma vida de renúncias, em uma vida de clausura, em uma vida de tédio! Como, sobreviverei ao tédio da vida real que tanto desejei?