quarta-feira, 16 de junho de 2010

Acho que o meu pior defeito sempre foi querer buscar um reconhecimento maior do que aquele que o senso comum é capaz de dar. O senso comum gosta da dor. Ou melhor, já se acostumou com ela, porque, na verdade, o senso comum se acostuma com tudo! Acostuma-se com uma vida mais ou menos, um trabalho ou um horário mais ou menos, com uma porra rala no final de um papai-mamãe mal feito, com a recusa de seus desejos mais sórdido (e os menos sórdidos também), com uma relação que prende, maltrata e desumaniza, mas que é estável, por que, no fundo, o senso comum gosta mesmo é de estabilidade. Tem medo de arriscar, tem medo do novo, não pula com medo de se machucar ao chegar no chão e, por isso, perde a adrenalina da queda. Não tenta, achando que já vai perder, sem perceber que tem a mesma proporcionalidade de ganhar. O senso comum gosta mesmo é da cara de coitadinha, para que possa vir com a hipócrita solidariedade cristã e cuidar, sem perceber que esse cuidar significa também cruelmente dominar. Mas o senso comum não se admite enquanto cruel, pois ele não admite sentimentos, a não ser que eles sejam mornos. Ele jamais admitiria que atrás de sua aparente bondade e racionalidade, há sentimentos de fera, que devora, que não pensa, que tem fome, e que quando tem fome, sacia. Que quando tem sede, bebe. Que quando tem raiva, enlouquece. E que quando tem desejo, também sacia.
Mas o senso comum, não! O senso comum aprendeu muito cedo na escola a sentar-se em fila, amar a deus, cumprir ordens, ser racional. O senso comum é o animal domesticado que, todos os dias antes de dormir, sente saudade de correr livremente pela selva.

Um comentário:

Mariana disse...

OMG! perfeito. Como sempre, você posiciona mto bem as palavras. As SUAS idéias. Para um texto tão especial, vai um comentário bem senso comum. Ficou ótimo, continue nos presenteando com belos textos, pq a "livre literatura" precisa de você. Te amo.