terça-feira, 9 de outubro de 2012

Declaração de voto

Durante todo o período desde que começaram as campanhas eleitorais (em agosto, certo?) para vereadores e prefeitos acompanhei, principalmente pela internet, de tudo um pouco: pessoas que mudaram nomes de comunidades e desonestamente colocaram nomes de candidatos (Ailma, Ayala e Isaura Lemos foram os que presenciei em minha lista), pessoas que fazem floods chatos que mais afastam do que aproximam, campanhas realmente boas com propostas, marcações insistentes diariamente, gente xingando porque não queria ser marcado, gente excluindo amigos porque descobriu que o amigo não vota nulo, gente postando mais que os floods de candidatos campanhas pelo voto nulo (tão chatos quanto), denuncias de coronelismos até hoje no interior, candidato que se diz de esquerda em envolvimento com Cachoeira, candidato a prefeito querendo fazer plano de saúde e não investir no SUS, candidato que fez 8 CMEIs agora prometendo 80. Enfim, foram muitas coisas que todos vocês viram (ou pelo menos deveriam ter visto) e não vou ficar aqui comentando um a um, porque não é esse o caso. Assisti a tudo isso sempre fazendo minhas reflexões, críticas e elogios e dialogando com quem é mais próximo de mim, mas não cheguei a colocar nada disso na internet, justamente porque ela já está cheia disso!
Hoje, faltando dois dias para a votação decidi fazer uma declaração de voto, que não a fiz antes porque estava, sinceramente, ainda refletindo diante da enxurrada de informações (porque informação sem reflexão é só vício mesmo). Pra quê isso? Porque o facebook é meu e eu posto o que eu quiser, rá! Não, não é por esse motivo tosco e infantil e sim porque acredito que as redes sociais têm, sim, potencialidades que devem ser exploradas - ou melhor, antes disso, também estudadas, faz o favor, tá? - não da forma idealizada de muitos que acham que vão fazer a revolução através de compartilhamentos e curtidas, mas creio que um meio que faz com que as pessoas estejam presas a ele durante tantas horas de seus dias – e eu me incluo entre esses – não deve servir só pra postar piadinhas ou sua banda favorita, né? Podemos debater ideias; quantas não foram explicitadas aqui mesmo no meu próprio perfil? Podemos fazer grupos de pessoas com afinidades e organizar eventos, marchas, etc. Podemos, inclusive, descobrir que no mundo tem muito babaca, misógino, homofóbico e que esses também se organizam e devem ser combatidos não só virtualmente.
Ok, podemos fazer tudo isso, mas a revolução ainda é na rua, tá?
Daí resolvi fazer minha declaração de voto, não que eu ache que eu vou influenciar alguém, porque não é essa a minha intenção, mas porque eu vi tanta coisa nesses últimos tempos e, como dizia Raulzito “eu também vou reclamar”.
Votarei em Marta Jane.
Meio óbvio? Talvez não.
Como alguns sabem fiz parte durante dois anos do PCB, militei muito, literalmente doei estes dois anos da minha vida para construir esse partido e creio que não foi em vão. Muito do que hoje ele é, seja lá o que for, mas parte até de seu crescimento, sem falsa modéstia, creio que ajudei um pouquinho a construir. Saí porque depois de um tempo, depois de levar muito na cara e perder muito debate eu percebi que não perdia os debates nem sempre por falta de argumentação, e sim por ranços stalinistas e sobretudo machistas que ainda estão presentes em muitos militantes do partido em Goiás. Eu não poderia conviver com isso, fazia-me mal fisicamente, inclusive. Era muito triste ter ido e participado das resoluções do XIV Congresso no Rio e voltado pra Goiânia com esperanças renovadas e chegar aqui e me deparar com ditos “camaradas” que pareciam nem fazer questão de saber delas, pois suas péssimas práticas já estavam cristalizadas e eles mandam no partido. Saí, não pretendo voltar nem para o PCB e nem para nenhum partido, mas, também não sou contra eles. Mas esse não é o tema que quero escrever agora.
Descobri que stalinismo e machismo tem em todo lugar e vou ter que lutar contra ele todos os dias em qualquer lugar. Descobri que até na academia dos santos professores doutores também tem disso, e muito!
Descobri neste meio tempo a forma de militância que mais me agrada: os movimentos sociais. Estudei-os em meu mestrado, tentei participar de alguns, sempre observei muitos. Descobri que no movimento sindical (ao menos no dos técnicos administrativos da UFG) também não há espaço para ideias novas. Opa, espera aí, ideias novas, como podem perceber, sempre foram combatidas em quase TODOS os lugares em que militei. Uma decepção? Sim. Mas eu ainda tenho esperanças, porque pouca coisa mudou, mas pelo menos já mudou algo, né? Tenho a impressão que é assim mesmo. O tempo histórico das mudanças não é tão rápido como gostaríamos e precisamos.
Tá, “mas depois de tudo isso você ainda vota?” Muitos podem me perguntar. Sim, eu voto. “Não vai mudar nada!” Outros falam e eu respondo que provavelmente não mudará muita coisa mesmo, porque esse é um âmbito institucional e não faremos revolução institucionalmente mesmo. Eu sei, inclusive, que as leis eleitorais brasileiras quase nada se diferem das da época da ditadura ainda e favorecem os grandes partidos, os que têm grana, pra ser mais exata. Sei de tudo isso e ainda voto.
Voto, e é só por isso, porque sei que faz certa diferença para grupos minoritários ter ao menos um representante que vai ficar na Câmara falando sozinho, mas que vez ou outra pode protocolar uma proposta de lei anti homofobia na cidade, como Marina Santanna fez em 2007 em Goiânia, ou demais propostas que ofereçam um mínimo de dignidade à pessoas que são excluídas, ofendidas e violentadas diariamente. Sei que os movimentos sociais podem ter um canal pequeno, mas é um canal de interlocução com algum parlamentar que realmente esteja do seu lado e não que finge estar, mas recebe dinheiro do Cachoeira, como fez o senhor Elias Vaz. Creio que é importante que sejam apresentadas pautas de caráter popular e com a pressão popular na Câmara de Goiânia. Por isso voto em Marta Jane, porque penso que é uma alternativa, é um braço no institucional que terá respaldo nas ruas e vice-versa. Sei que se eleita ela estará lá com esse mesmo intuito que apresento. Sei que ela compreende que aquele é apenas um aporte, mas que as mudanças de fato ocorrerão por outros meios.
E o fato dela ser do PCB, partido do qual eu saí? Saí, mas muitos ali eu respeito. Respeito, sobretudo, a história desse partido, com seus erros e acertos. Respeito Mazzeo, Maskote, Igor Grabois, Mauro Iasi, Marcela Coimbra e tantos outros que não vou ficar citando. Respeito, inclusive, Marta Jane e sei que ela é verdadeiramente guerreira até pelo fato de ainda estar nesta organização com tantos problemas e, com o perdão da palavra, gente escrota que lá está também. Eu não dei conta e assumo isso.
Voto em Marta Jane e espero muito que, dos candidatos “de esquerda” que estão aí, ela possa receber mais votos e tirar Elias Vaz que parece ter concurso público (12 anos de mandato) para vereador e usa a máquina em benefício próprio. Aproveito ainda o ensejo para parabenizar o pessoal da esquerda do pessoal que vem lutando bravamente contra esse cara e o Martiniano, que, pra mim, não diferem em nada da direita. Aliás, pode-se dizer que em certa medida são ainda piores, pois são mais hipócritas de ainda usar nomes e siglas de lutas sociais para, na verdade, traí-las.
Conheço-a pessoalmente há muito tempo, militamos juntas e, pessoalmente, posso dizer que do meu círculo próximo ela é uma das mulheres que mais admiro! Inteligente, coerente, crítica, amiga e solidária. Mas isso não é motivo para votar em alguém. A minha relação pessoal com ela não deve ser colocada em pauta na hora de votar, eu sei. Só disse isso porque tenho mesmo a honra de tê-la como amiga.
Deixo claro ainda que respeito muito as pessoas que tenho conhecido ultimamente que defendem arduamente o voto nulo. Sobretudo àquelas que têm embasamento e não somente palavras de ordem para falar sobre isso e mais ainda aqueles que não só ficam fazendo críticas de sofá, mas faz algo efetivamente real para a luta social (esses são raríssimos!). Se formos parar para pensar, sem patrulhas ideológicas, creio que tenho várias afinidades com estes, mas, eu sei, esse diálogo nunca será possível, especialmente depois deste post, rs, rs. O maior problema no fim disso tudo é que a esquerda não dialoga e não se respeita e esquece que o inimigo é outro.
Enfim, foram apenas algumas reflexões que fiz e que quem quiser que leia, ou continue postando memes e xingando de forma vã a “política”.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Starfish

(Texto que fiz para o primeiro zine do Coletivo Feminista Starfish em agosto de 2012.)

Fizemos a Marcha das Vadias em Goiânia e isso parece ter incomodado muita gente. Não que em Goiânia não tivesse outros movimentos feministas, de gênero, etc, como alguém afirmou em uma de nossas reuniões deixando outra parcela desta descontente. Aqui sempre teve movimentos de gênero, sim, sempre teve gente que lutou para ser reconhecido, respeitado e até protegido pelas leis do Estado ou convenções sociais. Colcha de Retalhos, Transas do Corpo, Invertendo a Rota e tantos outros movimentos e até mesmo pessoas que individualmente sempre lutaram nessa terra do pequi têm o nosso respeito, referência e espelho pelo seu acúmulo teórico e prático, pela sua antecedência que tanto nos ensina quanto à forma de lutar.
Mas, então, o que trazemos de novo, se tantos já lutaram e continuam lutando? Por que não se integrar a outros grupos ao invés de fundar outro? Por que esta luta, especificamente, nos dias atuais?
É verdade. Pra quê lutar contra o machismo se tantos precisam de educação? Pra quê denunciar a homofobia e o preconceito se as raízes destes estão em questões mais profundas? Por que falar sobre aborto, prostituição e respeito se existem tantas outras mazelas na sociedade que são mais fáceis de serem acessadas e menos polêmicas se forem faladas? Por que lutar por gênero “esquecendo-se” da classe? E por que, logo vocês, querem falar sobre a luta de mulheres, meninas que são? Por que vocês não aceitam homens, por que vocês não me deixam te ajudar, por que vocês não querem minha instrução messiânica como um guia? Por que vocês começaram com isso agora? Por que é um grupo fechado, quase secreto?
Estas e outras frases foram algumas pérolas que escutamos em nossa curta jornada ‘starfishiana’ e pretendemos, então, dialogar, na tentativa de desmistificar o que já é mito, muito antes de ser contado.
A nossa jornada de luta ou não, histórias de vida e experiências acumuladas são distintas em diversos aspectos e culminou de se encontrarem agora. E não que elas digam respeito a alguém, pois são histórias de esfera íntima, e menos porque temos que dar satisfação para algo ou alguém, mas porque as unidades que encontramos na luta pública partem de algum lugar da esfera privada que não são ‘privilégios’ ou inéditas à nossa realidade, mas é a realidade de milhares de mulheres, em graus diferentes de acontecimentos que geralmente não merecem respeitabilidade de quem vê, mas que, para nós, tocam profundo em um mesmo lugar que só quem passa reconhece. Daí isso já responde uma das perguntas: por que não tem homens? Somos contra homens? De forma alguma, os amamos da mesma forma que amamos as mulheres e os animais, mas é que tem coisas que, para não parecer uma luta artificial e superficial, precisa antes ser sentida, e isso, com certeza, só quem é mulher sente. O homem pode ter noção e se solidarizar ao ver uma mãe que criou sozinha a filha desde que esta era ainda feto. Vários homens com certeza já fizeram isso e têm nossa admiração, mas só quem é mulher sabe o que é passar por isso e ainda perceber os olhares de repressão e estranhamento da sociedade ao ver aquela mulher se virando sozinha, criando a filha sozinha, batalhando, trabalhando, cuidando, precisando de cuidados que muitas vezes não foram encontrados, se desesperando e passando por percalços que foram ainda mais piorados por saber que a filha crescia sem a referência do pai. O homem pode se solidarizar e fazer a escolha madura e anti preconceituosa de não tratar mulheres como objeto em nenhum lugar, instância, tempo ou espaço. Mas só a mulher sabe o que é - em todos os lugares, instâncias, tempos e espaços – ser desrespeitada e tratada como objeto, da cantada na rua às piadinhas ‘sem intenção’, do salário menor no fim do mês simplesmente por sua condição de ser mulher, do abuso quando criança e até hoje quando a mão em seu corpo é muito mais rápida do que o grito contido; quando a vergonha e o trauma pelo que passou sem nem saber o que aquilo era é tão grande que parece intransponível, mesmo hoje, vinte anos depois.
Então, por que lutar contra o machismo? Pela resposta óbvia: por que isso nos toca. Por que isso, em algum momento de nossas vidas, nos tocou de forma profunda, em dores que precisávamos, antes de qualquer coisa, desabafar, contar, dizer para alguém “eu sinto isso” e ouvir de lá um “eu também”. Precisávamos nos conhecer, precisávamos ver que não estamos sozinhas, precisávamos encontrar o apoio que tantas vezes nos foi negado e precisávamos fazer desta dor íntima, desta conversa privada, uma perspectiva de luta pública para que outras mães, crianças e meninas não precisassem mais sentir vergonha por terem sido oprimidas e desrespeitadas. Precisávamos, muito antes de ler sobre o ‘referente ausente’ e todos os conceitos que nos são explicados, explicar uma para as outras quais eram os nossos referentes e o que havia sido ausente. E dessa forma nossa, entre amigas, entre, antes de companheiras de luta, mas entre confidentes, nos descobrimos um pouco, nos fortalecemos um pouco, nos blindamos de apoio para saber que indo para o público, o nosso privado seria tocado e exposto, mas que não seria mais um problema tão grande, por que agora estávamos ali enquanto oito, dez, vinte, trezentas... A ajuda que precisávamos era muito maior do que a dos livros que poderiam nos emprestar. Os livros são importantes, sem dúvida e, assim como referendamos os movimentos goianienses mais antigos, prestamos nossa homenagem também à Rosa Luxemburgo, Simone de Beauvoir, Maria da Penha e tantas outras e ousamos acreditar que elas, se nos conhecessem não fariam patrulha ideológica nos mandando parar de ler blogs e ler seus livros e sim reconheceria que um passo estava sendo dado e nos agradeceria por estar, de alguma forma, da forma como encontramos, continuando uma luta que um dia elas começaram e tanto sofreram por isso.
E também estamos sofrendo, em muito menor proporção do que as prostitutas do DERGO que ousamos defender de piadas de mau gosto, é verdade, mas sofremos por falar. Sofremos porque nos acostumaram caladas, dando risadas forçadas de piadas infames; por que nos acostumaram a chorar sozinha em casa e permanecer lá, para quem ninguém visse o que todos buscaram esconder: que havíamos sido humilhadas na frente de todo mundo.
‘E cadê o recorte de classe?’, alguém pode dizer. ‘Cadê vocês indo para a periferia?’ ‘Vocês são ricas ou de classe média e não sabem o que acontece na quebrada’, também já ouvimos. E respondemos que nem todas as acusações que nos taxam são verdadeiras, mas algumas são, sim. Nem todas são ricas ou de classe média, mas isso ninguém sabe e nem procurou saber. Nem todas são tão alienadas assim, e muitas se travestiram com essa máscara de alienada para serem aceitas por aqueles que agora não nos suportam em nossa fase mais ‘desalienação’. Mas, de fato, damos razão de que temos muito o que conhecer, temos muitas realidades que queremos acessar, temos muitos livros para ler e muitas histórias para ouvir e contar, e estamos buscando, um passo de cada vez, com as forças que temos, com as forças que outras estão nos dando, com a força que as próprias críticas nos dão, diariamente, de saber que se estamos sendo criticadas é por que tem muita gente que de alguma forma também está sendo tocada (o) e incomodada (o).
Demos um passo, dois, alguns e queremos dar mais, por que temos vontade e entendemos que o querer deve ser valorizado como quase a metade de um processo de mudança. Pretendemos despertar em nós e em outras e outros mais quereres, mais vontade de luta, mais vontade de mudança, num feminismo que estamos descobrindo no combate diário às opressões.
Muito prazer, nós também estamos nos conhecendo. Nós somos o Starfish.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Marcha das Vadias

(Texto explicativo que fiz na ocasião da Marcha das Vadias de 2012 em Goiânia, que aconteceu no dia 07 de julho com a presença de mais de 400 pessoas.)

A Marcha das Vadias surgiu a partir da afirmação de um policial em Toronto, Canadá, em abril de 2011. Este afirmou que se as mulheres queriam evitar estupro, não deviam andar com roupas provocantes, com roupas de vadias. As marchas começaram a partir da indignação em relação à esta afirmação do policial que coloca a responsabilidade dos estupros nas vítimas.
Marcha das Vadias, porque se andar com a roupa que queremos, seja ela qual for, é ser vadia, somos todas vadias, então, somos todas livres. O nome é também uma provocação. Chama atenção no início e desperta a curiosidade das pessoas que tentam entender o porquê deste nome e aí se informam e conhecem essa história e, geralmente, também se surpreendem com o absurdo que é culpar uma vítima por um estupro.
O coletivo de organização da marcha é algo muito simples, que surgiu da vontade de muitas mulheres goianas que viram a marcha acontecendo em outros lugares do país, souberam do motivo delas terem acontecido e pensavam em organizar uma aqui também. Ano passado tivemos duas Marchas das Vadias em Goiás, uma na Universidade Federal Goiás, campus Goiânia, e outra que ocorreu durante o FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental), na cidade de Goiás. Este ano começamos a organização com um mês de antecedência e estamos com boas expectativas. Nas duas reuniões que tivemos foram cerca de 20 a 25 pessoas. No nosso grupo no facebook já temos quase 300! Todas as deliberações são tomadas de forma coletiva em reunião. No grupo on line são recebidas propostas, feitos debates, etc.
No Brasil já foram feitas outras marchas, Marcha das Mulheres, Marcha das Margaridas, etc. Em nenhuma delas, infelizmente, conseguimos respaldo e muito menos que a mídia veiculasse informações corretas sobre elas. O nome vadias ou qualquer outro nome não muda o preconceito que a mulher vive todos os dias, pelo contrário, ele escancara o quanto ele está presente nas falas, nas universidades, no trabalho, nas relações de trabalho, em casa, etc. Toda mulher já foi chamada de “vadia”. Seja numa festa ou no ambiente de trabalho, basta ela não responder a expectativas geralmente machistas para ser chamada de “vadia”.
Felizmente, o movimento de mulheres e a adesão à Marchas como a das vadias está crescendo. Percebemos cada vez mais mulheres interessadas em lutar, em não ficarem caladas diante do machismo do dia-a-dia que humilha, estupra e mata. As redes sociais têm facilitado a comunicação a este respeito, pois na grande mídia tradicional raramente encontramos este espaço. A mulher na mídia é objetificada, o que também é machismo! Mas em Goiânia a luta por direito de mulheres não é novidade. Tem muita gente que luta há muitos anos. A Marcha das Vadias é novidade, porque também é uma novidade no mundo, mas contamos, sempre, com colaboração e com certeza contaremos com a presença de feministas históricas do estado na Marcha!
Apesar de avanços nas lutas das mulheres, ainda falta muita coisa! No Brasil, aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, os salários são desiguais, há muita violência doméstica, mulheres são ofendidas e abusadas indo e voltando do trabalho dentro do transporte público, etc. As mulheres ainda são impedidas de coisas elementares, como ir e vir em paz. Esse e outros dados de violência contra mulher são alarmantes! A sociedade de hoje só foi possível com a luta incansável de outras feministas de outros tempos, mas é necessário continuar a luta. O machismo vem de onde menos se espera. Esta semana recebemos a denúncia de um texto publicado num jornal local com o título "Marcha das Vadias e o crime precipitado pela vítima", onde um advogado membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/GO defende que a mulher é culpada pelo crime de estupro. Em suas palavras que ela vem desempenhando "um papel de incitador da violência contra si mesmo, contribuindo com a ação do criminoso, seja pela inspiração ou facilitação do crime. Desta forma, a vítima é sujeito ativo no crime perpetrado contra ela própria. Ela é partícipe e desenvolve forte influência para a realização do evento criminoso." Diante de uma declaração dessa, proferida por um advogado que diz defender os direitos humanos, ainda paira dúvida quanto à importância da luta diária contra o machismo?
O feminismo que defendemos é a luta diária por direitos das mulheres, é a defesa incansável de que as mulheres são livres e iguais, é a luta para que o machismo pare de nos matar! Mulheres livres, Margaridas, Vadias, o que for, são marchas de defesa da mulher contra o machismo.