quarta-feira, 16 de junho de 2010

"É preciso queimar todo o passado e reconstruir uma nova vida. Ninguém deve se deixar dominar pela vida vivida até agora, ou, pelo menos, só conservar o que foi construtivo e belo. É preciso sair do fosso e lançar o sapo longe do coração."
(Gramsci, em carta à esposa, de 27 de junho de 1932)
Acho que o meu pior defeito sempre foi querer buscar um reconhecimento maior do que aquele que o senso comum é capaz de dar. O senso comum gosta da dor. Ou melhor, já se acostumou com ela, porque, na verdade, o senso comum se acostuma com tudo! Acostuma-se com uma vida mais ou menos, um trabalho ou um horário mais ou menos, com uma porra rala no final de um papai-mamãe mal feito, com a recusa de seus desejos mais sórdido (e os menos sórdidos também), com uma relação que prende, maltrata e desumaniza, mas que é estável, por que, no fundo, o senso comum gosta mesmo é de estabilidade. Tem medo de arriscar, tem medo do novo, não pula com medo de se machucar ao chegar no chão e, por isso, perde a adrenalina da queda. Não tenta, achando que já vai perder, sem perceber que tem a mesma proporcionalidade de ganhar. O senso comum gosta mesmo é da cara de coitadinha, para que possa vir com a hipócrita solidariedade cristã e cuidar, sem perceber que esse cuidar significa também cruelmente dominar. Mas o senso comum não se admite enquanto cruel, pois ele não admite sentimentos, a não ser que eles sejam mornos. Ele jamais admitiria que atrás de sua aparente bondade e racionalidade, há sentimentos de fera, que devora, que não pensa, que tem fome, e que quando tem fome, sacia. Que quando tem sede, bebe. Que quando tem raiva, enlouquece. E que quando tem desejo, também sacia.
Mas o senso comum, não! O senso comum aprendeu muito cedo na escola a sentar-se em fila, amar a deus, cumprir ordens, ser racional. O senso comum é o animal domesticado que, todos os dias antes de dormir, sente saudade de correr livremente pela selva.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Se fosse só o tédio... mas o pior é a sensação de inutilidade. Sensação semelhante à que já senti, mas em outra situação.
Sinto que estou perdendo o mundo. Ele continua rodando, e eu continuo aqui, perdendo seu giro, suas cores, perdendo amores.
Sinto que estou atrofiando, em sentido visceral. Minhas costas doem e me dizem o tempo todo o quanto é preciso me levantar. O quanto é preciso levantar, mudar (?) ... mas eu não me canso de mudanças? A mudança, sempre presente em minha vida, me é combustível ou disfarce? Disfarça o tempo sem perceber as verdadeiras mudanças, que ocorrem enquanto eu busco as outras.
A minha sede pela vida continua viva, mas a vida se encontra com a realidade. Uma hora elas teriam que se encontrar, já que uma destrói, mas, ao mesmo tempo, dá sentido à outra.
A realidade destrói a vida e seu sentido?
Que sentido há nisso que eu falo?
Há, sim, a perda dos sentidos, de sentimentos, de vida. O tempo está passando muito lento, mas quando olho para trás, ele passou tão rápido!
O tempo só passa rápido para quem ama...